Já me ri até acabar no wc, já gritei sem que ninguém me ouvisse, já confundi as minhas lágrimas com a chuva, já fiquei pralá de nervosa, já engoli água até não poder mais, já tirei uma azeitona da boca do meu gato com a língua, já corri sem saber para onde ia, já bati com o cu no chão muitas vezes, já menti com todos os dentes que tenho na boca, já metia pata na poça e na merda também, já me dei a quem nunca me devia ter dado, já andei no caminho errado sem sequer me preocupar em encontrar o certo, já ouvi criticas e elogios, já me arrependi de dizer algumas coisas, já enterrei a cabeça na areia, já abraçei uma amiga em apuros, já quis dormir numa cama elástica, já mandei gente pr'o caralho, já fiz castelos que se desmancharam um segundo depois, já jurei que não voltaria a ser fiel, já falhei e voltei a falhar, já me perdi com medo de me encontrar, já julguei que o papão me vinha comer, já acreditei que o Pai Natal descia pela minha chaminé, já vi um por-do-sol sózinha, já senti falta de cada beijo, de cada gesto, já esperei no fim de um dia cansado, já descobri cada lugar teu, já guardei uma data de segredos, já tive alguns minutos de verdadeiro prazer, já gravei olhares bonitos, já comi ovos mal cozidos, já devorei doze passas na passagem de ano, já fui atrás do Sol convencida que o apanhava, já deixei alguém entre a espada e a parede, já fiz juras de amor, já arranquei um pedaço ao céu, já senti o chão fugir-me dos pés, já dou pelo cheiro dele a quilómetros, já me deixei ir num beijo que não queria, já confessei à Lua que tenho ciúmes dela, já senti a dor queimar-me o peito, já tentei parar o tempo, já fiz promessas sem as puder cumprir, já fiz noitadas na companhia dos amigos e do votka, já apanhei chapas no cu, já me esqueci de agitar antes de usar. Já saltei, já alcancei o limite do histerismo, já delirei com cócegas, já chamei pela mãe, já cometi loucuras, já falei horas e horas ao telefone sem dizer nada, já fugi de um rato antes de ele poder fugir de mim, já peguei num macaquinho, já vi ginastas levarem porrada dos treinadores, já comuniquei com o meu gato, já me passei dos carretos, já apanhei gente em flagrante, já vi um par de namorados encostados ao carro da minha vizinha no marmelanço, já pus o pé na cabeça, já fiz um funeral a um cão, já li o jornal num ângulo de 180 graus.
Já morri. E nasci de novo.